FernandoLeiteFernandes-Poesias.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Antonio Roberto Fernandes - Missa de 5 anos do seu falecimento.

A família e os amigos do poeta Antonio Roberto Fernandes 
convidam para a missa de 5 anos de seu encantamento, às 19h00, 
na Capela do Colégio Salesiano.

(O recado é de Naira)





Um ypê roxo e outro, amarelo, bem ao lado. 
Natureza perdulária.
 Pra que gastar tanta beleza?

(FernandoLeiteFernandes)

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

De vez em quando a Poesia faz isso, desaparece.
O poeta, perdido, se limita a dizer:
nada a declamar!
(FernandoLeiteFernandes)
 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

MOCINHA

(Para o aniversário de Laura, à direita (de branco) minha primogênita)


No quarto
a manhã rasteja
e clara incendeia os olhos que te vigiam.
Dormes com a leveza
de quem canta uma canção
que não existe
e ri,
minha mocinha.


(FernandoLeiteFernandes)
 

domingo, 10 de novembro de 2013

NADA

O enigma que me persegue pergunta:
E se nada houver depois?
Nem terra da promissão,

Rios de leite e mel?
Nem carruagens de fogo,
Maçãs de ouro?
E se, definitivamente, não houver
Campos cobertos
De grama verde e brancos lírios?


Ainda assim terá valido
a extraordinária aventura humana
E ter deixado poesias e filhos.
 (FernandoLeiteFernandes)

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ELO


Os compromissos da vida 
nos empurram para rotas distintas, 
mas no nosso afeto continuamos assim, juntos, irmãos: 
Roberto, Lúcia, Sérgio, Anleifer, Rosa, Guilherme e eu.

(FernandoLeiteFernandes)
 

FACEBOOK



Gosto do facebook, especialmente.
Gosto de gente.
Gosto de escrever e ler.
Gosto do elogio generoso, embora isso me iniba,
mas gosto também da divergência educada.
Só não gosto da ofensa gratuita ou revanchista.
Gosto do facebook democrático, largo e raso
que permite à todos a aventura da escrita,
à sagrada e intutelavel opinião.
Gosto da coragem de quem acredita
que pode mudar o mundo, a partir de sua palavra.
Gosto de Dom Quixote. Com ele aprendi a não temer
os moinhos. Se quiser dou uma ordem e os ventos cessam.
Gosto da palavra. Gosto do verbo, porque o verbo é o Princípio.
E o verbo é nossa única certeza
que quando acabarmos não será o fim.



(FernandoLeiteFernandes)
 

PAIXÃO

(Para as vítimas das guerras, em Kosovo, 1999, e para o morticínio na Síria, 2013)




Deixem que Maria Callas cante uma ária triste,
que tenha violinos, de preferência,
enquanto assisto na TV, a marcha dos albaneses,
deixando sua aldeia.
Sladan Tiakovic
é um camponês solitário,
entre os que fogem para a Macedônia.
Não olha para trás,
enquanto vence as últimas colinas.
Deixou insepultos dois filhos,
mas carrega-os, ensanguentados,
no colo da memória.

Aumentem o volume,
que Maria Callas inunde, completamente
essa tarde absurdamente azul e bela,
com seu canto triste,
espada de gume afiado.

Quero um talho fundo em meu coração
insensato,
quero o crepúsculo,
como um manto roxo
sobre nossas estátuas de barro,
sobre nossa paixão disfarçada.



(FernandoLeiteFernandes)

Tentar quantas vezes forem necessárias. 
Tentar o dobro das vezes em que fracassou. 
Desistir, jamais.

A História não lembra dos nomes de quem desiste.


(FernandoLeiteFernandes)

A saudade é um país de geografia abstrata.
Tem rios que não terminam nunca,
montanhas solitárias,
planícies à perder de vista
e um mar que se ouve.
As tardes são vastíssimas
e chove nos domingos de frio
quando o bom é dormir agasalhado.
Lá fora piam pássaros molhados:
a rolinha é a mais cortesã de todas as aves,
o periquito é cômico,
o gavião é altivo e só.
Eu não canto e muito menos sei voar
mas conheço o poder da palavra
e me calo enquanto rio.
Invento mentiras, mudo o nome dos sentimentos
e engano aos que odeio.
Se quiser faço gaiolas
e me transformo no senhor do mundo.
O ruim é que neste país nunca amanhece.
Só me lembro das tardes longínquas,
aquela cor indefinida entre o azul e o lilás
e uma dor visível, violeta.
Lá moram os mortos que andam,
que torram o café que bebem
e riem às bandeiras, sentados em roda, no alpendre:
Dico, Roque, Mariquinha e Diomar.
Revejo velhas roupas,
minha japona quadriculada do Grupo Escolar
Barão de Macaúbas, a bicicleta do meu pai
e até sinto o cheiro de pão com manteiga,
que eu levava de merenda na minha pasta de borracha.

É sempre assim quando ouço
o canto das lavadeiras do rio Paraíba.
Foram elas que fabricaram esse País,
essa tristeza.




(FernandoLeiteFernandes)
 

TESTAMENTO DE VENTO DE OSÓRIO PEIXOTO II


Foi Osório Peixoto mesmo quem modelou
No barro da Graminha,
Na Baixada,

O canário que canta e estilhaça
O vidro da noite.

Assim
A madrugada vaza sobre a praia
Do Farol
E tinge a franja das ondas
De prata.

Então a manhã se espreguiça sobre
A planície e vai afugentando
Coronéis e lobisomens.

Tudo obra de Deus,
Depois que leu a poesia de Osório.




(FernandoLeiteFernandes)
 

LEI DAS EMBARCAÇÕES


Faltaram a vela inflada
E a sina dos ventos
Que levam ao milagre dos peixes.
Faltou a cantiga
Do pescador solitário,
Enquanto a quilha abre
veredas d’água.
Faltou o último levante do sol,
Um bando de gaivotas de porcelana,
no primeiro vôo de vidro da manhã.
Faltou que se cumprisse
A lei das embarcações:
Do barco não mais voltar ao porto
Na viagem derradeira.
Perder-se no azul sem fim.
Faltou o mar,
Que um dia,
Pensei que houvesse
Em mim.


(FernandoLeiteFernandes)

O GRÃO DE LUZ


A ciência festeja a descoberta
Da menor partícula do Universo,
O grão de luz.
Precisou de séculos,
Misturou teorias
da física quântica,
Da mecânica e da mais fina tecnologia.

O que a ciência não sabe
É que o poeta pantaneiro, Manoel de Barros,
Armado unicamente com sua poesia
Já fez, há muitas luas, essa descoberta.

O grão de luz,
Quando a aurora ainda é espanto
Quando vaza a madrugada alta o canto
do sabiá-laranjeira,
reluzente como a alegria,
sai de seu bico o grão de luz
e incendeia o dia.


(FernandoLeiteFernandes)

LONGE


Nesse gordo final de semana
estou na República Popular e Independente da Bicuiba,
cortada ao meio pelo rio do Colégio,
sob o céu velho de São Fidélis de Sigmaringa,
na bacia do Paraíba
com seus esqueletos de fora,
longos braços de areia.

Aqui quem me acorda é o trinado
de um valente canário
que vigia do alto do cajazeiro
meu exílio voluntário.


(FernandoLeiteFernandes)

MATER - (Homenagem à minha mãe, Djanira)


O vigário da matriz de São Fidélis
Montou guarda na porta frontal da nave.
Meu pai, morto, aguardava na rua
A bênção final negada.
Meu pai, maçom e espírita,
autodidata, leitor compulsivo de romances brasileiros.
Minha mãe, filha de Maria,
Católica, apostólica, romana.
O féretro fez meia volta e seguiu solitário 

ao seu destino.

No domingo seguinte,
Na missa das 10 horas,
Meu pai entra, enfim, na santa madre igreja,
Acolhido no coração doloroso, viúvo e obediente
De minha mãe.


(FernandoLeiteFernandes)

O amor é eternamente adolescente!

(FernandoLeiteFernandes)

BOLERO



Desamou todos os homens que teve,
O que amou nunca foi seu.
Com alguns teve filhos e sonhos
ambos deixados ao léu.
Foi atriz de todas as traições.
Imitava a novela na vida de final cruel.
Quando não sabia o que dizer e nunca sabia, ria.
E ria, ria, ria.
Franzia os olhos que se mantinham infantis.
Ria de medo, ria de nervoso, ria de susto,
Ria das humilhações da vida feitora.
Ria.


Até que um fio fino de seu sangue
Teceu a cena final.
A perícia criminal registrou um punhal cravado
Sob a axila esquerda –
Porque o punhal é a arma do ciúme - .
O laudo não fez menção do sorriso indisfarçável.
De espanto.
O último.
(FernandoLeiteFernandes)

Poesia é coisa grande, 
mas tão grande, 
tão imensa que não cabe no léxico, 
transborda. 
Por isso existe a licença poética 
para dar conta dos delírios, 
da criação à perder de vista dos poetas.

(FernandoLeiteFernandes)

FACAS


Faz tempo que transformei
minhas palavras em lanças.
Quando falo Crepúsculo, sangra.

Guardem de mim
o que mais gosto,
levem para longe
o que é azul,
escondam
o que cheira a morango.
Agora fabrico versos afiados,
grito o nome dos impostores de todos os tempos,
dos canalhas e seus sócios,
como quem corta ao meio uma melancia.
Minha língua é lâmina
e a poesia
é aço.


FernandoLeiteFernandes (sobre foto de Antonio Cruz)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Fechei meu diagnóstico: saudade dói, rói e corrói.

(FernandoLeiteFernandes)

MONTIM


(Para Nelson Mandela)

Antes de partir deixo-te meu terno de casimira
com o qual me suicido todas as manhãs,
uma margarida violentada
e esta confissão de desespero.
Concordo que a "alegria é crime
quando não é geral."
Declaro que se a Poesia não incomoda
não é poesia
porque o Poema é alquimia,
mistura autora e alegria,
fome, punhal e flor.


FernandoLeiteFernandes (num longínquo 1979, do século XX)

MAMBEMBE


Às vezes tenho vontade
de desatar o nó que me prende ao quintal -
sagrado e maldito destino

dos homens comuns -
Queria ter a coragem
de ganhar oceanos, cruzar desertos,
desafiar tempestades e ventanias,
levar a cabo as revoluções que tramei
nas madrugadas do meu país,
mas, que nada,
diante de mim, a tábua de leis
adverte que, pela manhã,
tenho que trocar a água dos passarinhos
e comprar o leite e o pão.

É sempre assim, a claridade do dia
queima as minhas asas.


(FernandoLeiteFernandes)

PLURAL



Eu não sou eu todo dia.
Às vezes, meu inimigo.
Às vezes sou quem abomino.
às vezes sou um menino, às vezes, velho também.
Sou eus.
Às vezes, diabo, às vezes Deus.


(FernandoLeiteFernandes)

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

"ANLEIFER"

Já não me lembro, exatamente, quantos anos tinha, quando a professora anunciou que o tema da redação era sobre o dia dos pais. Meus colegas de primário do Barão de Macaúbas debruçaram sobre a folha e eu fiquei sem saber o que fazer. O meu pai morrera há pouco tempo e, com exceção do grupo escolar e da minha casa ali perto, tudo ainda era pra mim um imenso mistério. Sequer compreendia que os pais morriam e deixavam meninos sem saber como se defender.

“Escreva sobre as lembranças que você têm do seu pai”, tentou ajudar a professora. Não tinha tantas lembranças assim, a não ser a bicicleta de quadro duplo, a linha do trem por onde eu, a pé, levava a marmita dele, acompanhando um dos irmãos, um dia de chuva e aquele seu paletó que me vestia como se fosse uma batina. Isso dava uma redação? Deu uma poesia sentida e assimétrica. A primeira. Descobri, então, naquela manhã longínqua que eu tinha “um jeito de ver” a vida e seus desvãos.

A partir daí não parei mais de escrever. Cumpro a sina dos que varam a vida imitando Deus, inventando de novo o Mundo, a partir da palavra encantada.

(FernandoLeiteFernandes- Fotografia do meu pai Anleifer)



"PESSOAS"



Em plena baia da Guanabara,
Na Cantareira, vejo as gaivotas
Em seu voo acrobático.

Em minhas mãos a luz do dia
Tem a cor das violetas.
Não consigo evitar que os poemas de Pessoa
Flutuem.
Desprendem-se do livro e vagam.
(Os grandes poetas são mesmo passarinheiros.
São iguais as aves de Gullar, Drummond ,
De João Cabral)
Enquanto vigio a vida
- veloz Cantareira –
Imagino o que estará fazendo Maria Tabajara
Num terreiro de chão batido, em São Fidélis.
Atravessa o tempo o cheiro da broa de milho,
do café torrado.
Do barro molhado pela chuva de janeiro.
Ouço o canto de Ataliba
E sua enxada fere de morte a quaresmeira.
Ataliba não distingue a flor do capim.
Masca manjericão e sonha
Com uma mulher pálida
Que lhe faça almoço quente
E esconda o rosto quando levantar a saia.
Depois é oração para as chagas de Cristo

Um avião estupra a calmaria da tarde de inverno,
Devassa a minha memória, desfaz a chácara de minha infância,
As laranjeiras em flor, o pé de lima da Pérsia
Repleto de metódicas galinhas no comecinho da noite,
Infalivelmente.
Então me levanto mecanicamente
E vou junto da multidão.
O futuro me empurra
Para o cais.


(FernandoLeiteFernandes - maio de 1993 do século 20)

"FAZENDEIRO"


(Poesia, que a chuva é fria)
  
 Gosto de trazer o paletó, desse jeito:
dobrado no braço.
Quando ando assim, olho as pessoas
e lembro meu pai, que conheci tão pouco.
Os pardais da praça fazem troça quando passo.
Parece que zombam da minha calça de tergal azul,
que muda de cor no sol,
fica lilás.
Enquanto caminho, falo sozinho,
recito velhas poesias, canto modinhas antigas.
Os dedos das mãos e da memória
guardo ocupados.
Contam meus bois que ninguém vê.

O meu pasto é de nuvens.


(FernandoLeiteFernandes - Campos, dezembro de 1996, do século 20)

"A FLOR DA POESIA"


A Poesia é premonitória,
a Poesia antecipa a história,
a Poesia é caos e glória,

a Poesia vive em Nova Yorque e Pretória,
Em Dubai e Vitória.

E se não é tempo de florir,
a Poesia cria.

A flor da Poesia tem raiz na palavra.


(FernandoLeiteFernande)


Quando ela fecha os olhos
Reencontra aquele rapaz de vinte e poucos anos,
Que chegava de bicicleta,
Com as mãos cheirando à café batido no pilão,
O cabelo penteado pelo vento da tarde,

Um ar desassombrado dos heróis dos romances
E cristais no lugar dos olhos
- tanto era o brilho –

Definitivamente, não pode ser esse velho
Cochilando na varanda,
O peso de quase um século sobre os ombros,
A pela escalavrada pelo monstro do tempo.

A não ser, unicamente, pelos cristais
Que ainda guarda dentro dos olhos,
Intocáveis.


(FernandoLeiteFernandes, junho de 1999)

"MARIA CLARA"


Tens a matéria da flor de acácia
sob o sol,
Por isso teu sorriso é assim,
primeiro clarão da manhã.
Quando dormes
as begônias te aguardam silenciosas,
pois está contigo,
nos teus olhos, a cantiga do crepúsculo.
Quando despertas,
libertas a alva manhã,
com teu sorriso de sol,
Clarinha.

(FernandoLeiteFernandes -
Fiz esta poesia quando Cacala nasceu./Dezembro de 1989)


Não resisto à tortura.
Confesso que nessas ruas
cheias de vida e de gente,
há dias que caminho
na absoluta e voluntária clausura.


(FernandoLeiteFernandes)

"AMIGOS"


"Tenho pensado nos amigos que perdi.
Amigos da infância, da adolescência.
Amigos da juventude, do colégio, amigos de quando
Servi ao Exército Brasileiro.
Amigos do teatro, da Poesia, da Politica.
Amigos da resistência. Amigos do plano infalível de mudar o Mundo.
Perdi muitos amigos e aprendi que amizade não se repõe.
Não se faz amigo em linha de montagem.
Cada amizade é única, singular, tem sua história própria.
Às vezes nasce de um olhar, um sorriso, um gesto.
Há amizades generosíssimas, largas e fundas como um rio
Que nascem de um desacerto.
Uma amizade de agora não substitui outra que se partiu.
Tenho amigos com os quais nem preciso falar. Sei que estão lá
Ao alcance de minha voz e de minha mão.
Tenho amizades que são fragilíssimas --
Orquídeas no deserto, avencas na ventania.
Dei pra pensar nos amigos que perdi pra morte
E o fato de eu estar aqui é a garantia subversiva que enquanto der
Eles viverão em mim."


(FernandoLeiteFernandes)

"NINA"

Um passarinho engraçado,
gordinho, de asas azuis,
veio trazer a noticia de sua chegada.
Pousou na janela, "aspirou a manhã novinha"
e cantou uma modinha iluminada,
era como se o dia nascesse ali
de uma flauta doce.
Foi o sinal para que eu tecesse cortinas de vento,
buscasse água fresquinha da mina
e espalhasse pela casa
margaridas amarelinhas
e florzinhas miúdas do campo.

Desde então meu coração
é sua morada.
Menina pequenina,
Nina,
para sempre.


(FernandoLeiteFernandes)

"DIA DO PROFESSOR"


Quem me chama de idiota não sabe nada de mim.  
Sou eu que trago em meu alforje a mais valiosa moeda do tempo presente, a do conhecimento.  
É com ela que faço o homem sem asas voar.

Obs: Arte de Sergio Provisano, designer do amor, do carinho, da compreensão e do impublicável.
(FernandoLeiteFernandes, madrugada do Dia do Professor, 2013, do século 20)